sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Um sonho DAQUI!

Estreou nesta terça-feira o média-metragem Sonho Lúcido, novo expoente da produtora independente Tarântula Filmes, em parceria com a produtora InMovimento, ambas de Porto Alegre. Dirigido por Pedro Breitman e Maurício Gyboski e roteirizado por este último, o filme conta a história de Antônio Carlos, um rapaz que enfrenta a dúvida cruel que recai sobre quase todos os jovens de classe média-alta: para qual curso prestará o vestibular. Embora exista uma tradição familiar que o envereda para a medicina, Toninho não faz a menor idéia do que fará, até que um sonho (o “sonho” do título) pode lhe dar a resposta.

Com esta fórmula simples (e que está no trailer, que você pode conferir aqui), Maurício e Pedro retornaram a dobradinha que iniciaram com o curta-metragem InPoliticamente Correto, filme também independente com o qual concorreram em vários festivais de cinema pelo Brasil e com o qual venceram alguns prêmios (para assistí-lo no YT, clique aqui para a Parte 1 e aqui para a Parte 2 ). Como estes dois filmes foram os primeiros e únicos da dupla (por enquanto), não há como não traçar paralelos entre ambos. Antes de iniciar esta resenha, devo abrir um parênteses e lembrar que trata-se de dois espécimes do curta-metragismo independente gaúcho, e quando cito aqui a palavra “independente”, quero dizer que não há Governo, não há lei de incentivo e nem um anjo da guarda milionário que segura as pontas: tudo é feito com verba própria dos realizadores, apoios não-financeiros de algumas entidades e empresas e muita disposição e amor à sétima arte. Desta forma, posso dizer que Pedro e Maurício (este último com quem já contracenei e trabalhei em três curtas) são meus colegas no núcleo de cinema de guerrilha de Porto Alegre.

A primeira coisa que salta aos olhos em SL é a qualidade visual que, comparada ao InPoliticamente, deu um grande salto. Não só pela bitola (de DV para XD), mas também pela técnica (takes mais sólidos, uma ótima fotografia) e a arte, que erra na escolha de algumas locações, mas se desculpa com o espectador ao criar sets muito realistas e acertar em cheio nos figurinos. Se em InPoliticamente alguns desses aspectos tinham problemas, o roteiro de Gyboski para este novo filme perde para o anterior ao arriscar menos em sua densidade e verborragia, conferindo um clima mais cômico à SL ao passo que, em InPoliticamente, constituía-se em humor negro. Haverá quem goste e se identifique com o texto, claro, mas minimizando os riscos da narrativa, o filme perde chances de deslanchar nas várias situações que apresenta acerca dos possíveis futuros de Toninho. Um artifício que coincide mais com a intenção do Maurício de nos trazer uma comédia dramática, e não propriamente um drama.

Vale salientar também o elenco do filme, que traz uma boa tríade de protagonistas. Felipe De Paula consegue transmitir a insegurança juvenil do personagem principal, que encontra a si mesmo 30 anos no futuro em várias situações (algumas engraçadas para o público e outras sérias para qualquer um). Ingra Liberato faz sua parte e traz caras, bocas e sotaques para as várias pesonagens que interpreta (ora como empregada, ora como esposa, ora como cliente ou senhoria de Antônio Carlos). Mas há de se destacar as atuações de João Diemer como as várias versões do Antônio Carlos do futuro. O ator (que já havia trabalhado com os diretores em InPoliticamente, onde não tinha sido tão bem aproveitado) consegue superar o restante do elenco com interpretações sutis e verossímeis. Percebe-se que todos os Antônios são a mesma pessoa, mas percebe-se também que cada um deles foi modificado por uma história de vida distinta. Para um ator conseguir transmitir isso, ele tem que ser, no mínimo, excelente. Por fim, o filme traz também a premiada atriz Araci Esteves fazendo uma ponta como a mãe de Toninho.

O média estará em cartaz (somente em Poa) no Cinebancários (Rua General Câmara, 424) até o dia 23 de novembro (dia 21 no horário das 14:30h e nos dias 22 e 23 no horário das 15h), um dos mais novos e charmosos cinemas da capital gaúcha, cujo slogan é “Uma janela para o Brasil”, enfatizando a importância de divulgar o trabalho do cinema nacional (inclusive, e principalmente, o independente). Depois do dia 23, o filme segue com exibições e debates na Sala Redenção (Campus Central da UFRGS), do dia 24 ao dia 27 de novembro (no horário das 14h), sempre com entrada franca.

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Dica de filme:

Sonho Lúcido
Diretores: Pedro Breitman e Maurício Gyborki
Elenco: Felipe de Paula (Antônio Carlos), João Diemer (Antônio Carlos no futuro), Ingra Liberato (Doralice, Sueli, Dededa Labanca, Serena, Jurandir, Helena), Araci Esteves (Dona Margot), Duda Cardoso (Junior, Netinho), Renata de Lélis (Francine)
Duração: 30 minutos
Gênero: Drama
Ano: 2008

Vale a pena ir conferir Sonho Lúcido por uma penca de razões: é divertido, faz pensar, é daqui (somos bairristas, e daí?), o Cinebancários tem cheiro de carro novo...sei lá. Mas acredito de verdade que a principal razão pela qual você deve ir ver o filme seja para que os gaúchos tomem conhecimento do trabalho de seu próprio pessoal e para que tenham consciência de que há qualidade e paixão cinematográfica em cada esquina desta capital. É só procurar e prestigiar.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Who watches the Watchmen?

Ok, ok, só quem aguarda 2009 tão ansiosamente quanto os fãs de Watchmen podem entender o significado desta pergunta, afinal, não é sempre que a maior obra-prima das HQs leva uma adaptação que, visualmente falando, está ficando fodástica.

Para inteirar os perdidos (ou infelizes) que nunca ouviram falar disso: Watchmen foi uma série de 12 revistas em quadrinhos criada por Alan Moore e lançada entre 1986 e 1987 cuja história gira em torno de um grupo de combatentes do crime fantasiados e sem poderes (o termo super-herói não é usado na HQ) que levam suas vidas rotineiras de vigilantes até que surge o Dr. Manhattan, um homem com poderes comparáveis aos de um deus, e tudo muda de figura. A trama aborda os eventos desencadeados pela aparição do Doutor e como o modo de vida dos heróis, bem como todo o panorama mundial, moldou-se com esta nova realidade, levando os acontecimentos para um caminho que pode ser desatroso para a humanidade.

Poderia também dizer que trata-se da história do assassinato de um desses vigilantes e de como esta morte esconde uma conspiração que pode colocar em xeque a paz mundial.

Estes, na verdade, são pequenos plot de muitos da trama, que delibera sobre assuntos importantíssimos da realidade daquela década (como a invasão do Afeganistão pela Rússia, a Guerra Fria ou as ameaças nucleares), ou mesmo sobre dramas pessoais enfrentados pelos vigilantes, mas que poderiam ser facilmente atribuídos a qualquer pessoa comum (alcoolismo, depressão, esquizofrenia, códigos de ética, impotência, fé, etc...), assuntos estes que, até o surgimento de Watchmen, não eram abordados nas histórias em quadrinhos.

Mas então isso faz de Watchmen um marco? É isso aí. A obra foi a única HQ a ser agraciada com o Prêmio Hugo de literatura, bem como a única a figurar na lista dos 100 maiores romances desde 1929 da Times. Todas as inovações atribuídas fazem de Watchmen um referencial que muitos acreditam não ter sido ultrapassado até hoje e talvez seja justamente por isso que se demorou tanto para alguém criar culhões para filmar isso: Zack Snyder, o competente diretor de 300, resolveu abraçar o treco e a estréia será em junho de 2009, dividindo os fãs da HQ em 3 categorias:

A categoria 1 diz que filmar Watchmen seria o mesmo que tocar Vivaldi com um pandeiro;

A categoria 2 diz que Watchmen é filmável, mas só se Deus estiver atrás das lentes (e Zack Snyder não é Deus);

A categoria 3 leva fé na bagaça.

Bom, não tenho receios de dizer que estou na categoria 3, principalmente depois que o Yahoo Movies veiculou o segundo trailer do filme (para assistir, clique aqui). Após assistir isso, consolido minha opinião sobre este filme tão aguardado e odiado ao mesmo tempo, e fico na torcida que muitos por aí queimem a língua (e que eu não esteja nesta leva).

Pra finalizar, segue uma foto de uma galera bem mais conhecida do grande público que também está esperando pelo filme.=P

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Naquele tempo...

Os chiclés eram mais gostosos, mesmo que as figurinhas transfers viessem embebidas em mais de 200 substâncias tóxicas.

As balas eram mais gostosas, mesmo que algumas tivessem o diâmetro exato de uma traquéia ou que outras fossem tão duras que poderiam durar dias no estômago se fossem engolidas inteiras.

Os chocolates eram mais gostosos, mesmo que as propagandas de alguns deles fossem boladas pelo próprio Demo e alguns outros tivessem formas que davam idéias maléficas às crianças (como fumar cigarros ou engolir moedas, por exemplo).

Os bonecos eram mais divertidos, mesmo que dentro de alguns deles pudéssemos encontrar ganchos, borrachas e outras partes não recomendáveis para crianças (quem mandou abrir o brinquedo, certo?).

Os jogos de tabuleiro eram mais divertidos, mesmo que o objetivo de alguns deles fosse o domínio do mundo ou descobrir quem esmagou o crânio de alguém com um candelabro na sala de estar.

As armas de brinquedo eram mais divertidas, mesmo que a maioria delas fossem réplicas fiéis à armas de verdade e algumas possibilitassem o uso de espoletas, que tinham o som de um tiro real.

Os programas de auditório eram mais divertidos, mesmo que o SBT insistisse em acionar os impulsos sexuais da molecada mais cedo transmitindo a Banheira do Gugu nas tardes de domingo.

Os desenhos eram mais divertidos, mesmo que figuras como Gorpo ou Corujito fossem a prova definitiva de que Deus não existe em Etérnia.

Os filmes eram mais divertidos, mesmo que alguns nos instigassem a matar aula, a resolver nossos problemas com violência ou a confiar em estranhos se acaso tiverem alguma deficiência física.

Com tudo isso, me pergunto:

COMO DIABOS SOBREVIVEMOS AOS ANOS 80 PRA CONTAR A HISTÓRIA?

Bem, "como" eu não sei, mas passado é passado, certo? Mas se a pergunta for "como sobreviveremos ao futuro", eu tenho uma vaga idéia...

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Previously on 24...

06 de Novembro de 2001...

O senador da Califórnia David Palmer liderava as pesquisas na corrida à Casa Branca, transformando-se no primeiro homem negro com chances reais de eleger-se presidente dos Estados Unidos. Além da esperança de mudança, o político também instigava a oposição de certos grupos e um deles, mais extremista, resolveu engendrar uma tentativa de assassinato ao candidato.

Este foi o plot do episódio-piloto da série 24 Horas, que trouxe o ator Kiefer Sutherland como Jack Bauer, o encarregado da CTU (Counter Terrorist Unit) que passa as piores 24 horas de sua vida. Com o formato Real Time (cada minuto em tela equivale a um minuto na vida real) e um recém interesse mundial pelo tema do terrorismo (o ataque ao WTC em setembro do mesmo ano), o seriado conquistou uma audiência absurda e sucesso de crítica e público ao mostrar as peripécias de Bauer para proteger o senador, resgatar sua própria família sequestrada e descobrir um suposto traidor dentro da CTU. Tudo ao mesmo tempo.

Lá por 2006, eu já estava careca de ouvir falar sobre 24 Horas (que já estava na 5ª Temporada). Como a série aborda os acontecimentos de um dia em uma temporada inteira (24 episódios de 1 hora cada, sendo 44 minutos de história mostrada e 16 minutos de comerciais – provavelmente usados para os personagens irem ao banheiro, comerem, trocarem de roupa, etc...), muita gente tinha que esperar uma semana ou mais pelo próximo episódio para acompanhar o desenrolar da trama sem chupar bala. Diferente da grande maioria dos seriados, onde há laços entre os episódios, mas cada episódio é uma história fechada. Resumindo, 24 tinha um formato que eu abominava só de pensar e nunca me despertou interesse...até um colega de trabalho me emprestar o box da 1ª Temporada.

O estrago estava feito. Além de descobrir que a melhor forma de assistir a uma série é em DVD (onde podemos ver vários episódios seguidos), fui atingido por uma maratona de 24 Horas: devo ter visto toda a temporada em 4 dias úteis, e queria mais. A narrativa não era só sequencial, mas envolvente de uma maneira que me fazia começar outro episódio quase que automaticamente. Roteiros com reviravoltas, tensões (com garantia de surpresas a cada 5 minutos), ação e uma produção de longa-metragem garantiram minha fidelização.

A evolução dos personagens e a periculosidade de seus trabalhos também são abordados de uma maneira incisiva e diferente de qualquer outra série: como toda a história se passa em apenas um dia, personagens realmente importantes podem aparecer em dois ou três episódios e só retornarem em outra temporada. Como a maior parte dos personagens-chave normalmente estão em situações de perigo ou na linha de frente, não é raro algum (ns) deles morrer (em). Também é comum alguém entrar na trama como um suposto vilão e salvar o momento, bem como alguns personagens que temos certeza absoluta de que são confiáveis mostrarem-se os piores dos vilões.

Outras qualidades que fizeram de 24 Horas um fenômeno também me cativaram. A edição, sempre vertiginosa (com telas divididas, ações acompanhadas por várias câmeras ao mesmo tempo e a presença de um relógio digital no meio da tela, que nos lembra da urgência dos personagens de resolver um impasse ou descobrir algo “antes que o gás seja lançado”), mostrava os acontecimentos envolvendo Jack, paralelamente aos acontecimentos relativos à CTU e ao Alto-Escalão do Governo, possibilitando a cobertura do espectador em todos os ângulos. A trilha sonora mais que perfeita de Sean Callery também é ponto a favor, dando ênfase às (inúmeras) reviravoltas já citadas.

Mas é possível que a maior arma da série seja seu protagonista. Jack Bauer não é exatamente um agente comum. Dotado de treinamento de combate, perspicácia e uma boa dose de crueldade (o que se descobre no andamento da carruagem), Jack é capaz de fazer QUALQUER COISA para garantir a segurança nacional. Embora inicie a 1ª Temporada como Diretor da CTU, não demora muito para que Jack quebre um milhão de protocolos para fazer o que deve ser feito. Mesmo que, para isso, tenha que se voltar contra sua própria agência, seus amigos, ou o próprio Governo Americano (sim, parece discrepante que, para defender o país, um agente federal deva desobedecer o Governo, mas estamos falando de Jack Bauer, porra).

Enfim, mesmo com os altos e baixos que pulularam pelo seriado (a 6ª e última temporada, por exemplo, iniciou magistralmente bem e terminou magistralmente mal), 24 Horas segue firme e sem perspectiva de cancelamento. Graças à greve dos roteiristas (é nóis, mano=P), a 7ª Temporada foi adiada por um ano, mas janeiro está logo aí e fico na torcida de que todas essa pérolas que fizeram de 24 Horas a minha série favorita continuem presentes.

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05 de Novembro de 2008...

O senador de Illinois Barack Obama consagra-se como o primeiro homem negro a vencer a eleição para a presidência dos Estados Unidos. Embora possua grande carisma e já tenha demonstrado liderança no Senado Americano, Obama (cujo nome lembra Osama), possui um “Hussein” no sobrenome (seu nome completo é Barack Hussein Obama II) e é negro (nada contra, só para enfatizar). Para um homem com essas peculiaridades vencer uma eleição num país que sempre foi marcado pelo conservadorismo e racismo, das duas uma: ou o parágrafo do discurso da vitória abaixo (proferido hoje em Chicago) faz muito sentido...

“Se alguém aí ainda dúvida de que os Estados Unidos são um lugar onde tudo é possível, que ainda se pergunta se o sonho de nossos fundadores continua vivo em nossos tempos, que ainda questiona a força de nossa democracia, esta noite é sua resposta.”

...ou os americanos se deram conta de que fizeram uma merda tão grande, tão grande, mas tão grande nas últimas duas eleições que resolveram não arriscar.

Pessoalmente, voto na segunda (mesmo que os estadunidenses nunca admitam).

Segredo...

"Três homens podem guardar um segredo, se dois deles estiverem mortos."

Benjamin Franklin