quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Carnaval 2008 - Primeira Parte - A Morena

Viajei para Tubarão nesta sexta-feira, para passar o feriado de carnaval longe desse arco incerto que virou Porto Alegre para mim nos últimos tempos, e para rever minha família e minha filha.

Como carnaval, dizem por aí, também é uma época de festas, vou dividir o relato em duas partes...

Esta parte é sobre a minha filhota, a quem chamo sempre de “Morena”.

A Morena, hoje, tem sete anos de idade. Sim, muita gente me olha com olhos de prato toda vez que digo que tenho filha deste tamanho, mas a verdade é que abri a fábrica bem cedo. E que fábrica. Se eu tivesse de descrever a Morena em uma expressão, acho que seria “um luxo”. Sabe aquela pessoa que ilumina um ambiente assim que chega? É ela. É algo que se descobre logo no cumprimento: tu falas “muito prazer” e ela te responde “o prazer é todo meu”, te dando um firme aperto de mão. Como se não bastasse, é uma dama para fazer qualquer coisa em público: ela não senta, repousa. Ela não anda, desfila. Ela não pára, posa. Quando ela dança, ninguém faz frente. Seu porte magro e sua postura lhe conferem uma altivez que faria qualquer princesa ficar roxa de inveja. Fantástica.

Embora esteja na terceira série, a Morena é capaz de ter sacadas geniais. De deixar muito adulto no chinelo. Possui uma inteligência e capacidade de discernimentos impressionantes. Ela tem todas as respostas para todas as perguntas do mundo, e todas elas na ponta da língua. Se, num aborto do destino, pegar a Morena sem resposta, ela cerra os olhos, faz bico, fecha a cara e cruza os braços, desarmando o perguntador inconveniente.

Quando cheguei na casa dela, no sábado, fui logo recepcionado com um longo abraço e beijos pela Morena. A mãe, minha primeira ex, disse que a mocinha havia desistido de ir a uma festinha de aniversário de uma amiguinha somente para me esperar.

- Não vai na festa, filha?
- Meu pai já é uma festa.

Sempre me impressiona a quantidade de amor que a Morena tem por mim. Mesmo a distância sendo grande e nosso contato muito pouco, este sentimento dela só aumenta e ela demonstra isso com tanto carinho que meu coração sempre acelera quando a vejo. É a filha mais carinhosa do mundo. Levei-a para a casa da minha mãe e passamos todo o carnaval juntos. Brincando. Passeando. Matando as saudades.

É triste de constatar o quanto o tempo fica curto quando ele é bem aproveitado. Foi tudo muito rápido. Mal piscamos e já era terça-feira. Eu tinha que voltar a Porto Alegre e ela tinha que ficar em Tubarão. Certa vez meu pai me perguntou como é que eu fazia para ser tão frio nessas despedidas. É só olhar aqueles olhões cheios de lágrimas da Morena pra sacar que a grande verdade é que a despedida é sempre um tiro no peito e eu sempre morro um pouquinho nela. Tento fazer minha parte e não deixar transparecer que estou acabado, mas só porque eu tenho que fazer isso. Alguém tem que ser durão nessas horas. Faz parte do processo.

Minha sorte é que meus filhos são minhas certezas de que as coisas vão melhorar e isso me conforta. Sei que logo poderei voltar, rever e matar as saudades novamente da minha Morena.

Não há nada melhor do que esta certeza.